Memória curta 
 
E aí a gente vai largando as chaves, o celular, o papelzinho com o telefone do marceneiro... E nunca sabe onde deixou. 
Onde foi mesmo que eu larguei a caneta? 
Hum, eu conheço aquele cara não sei de onde... 
Como é mesmo o nome dele? 
Você é assim também? 
Memória fraca, né? 
Será que é a idade que vai chegando... 
Ou será sabedoria? 
Eu gosto de deletar certas coisas da mente. 
Se a gente descarta alguns pensamentos, é porque eles não são importantes mesmo. 
Outro dia eu esbarrei numa pessoa no shopping. 
Olhei, olhei, e senti que aquele rosto era familiar. 
Cumprimentei educadamente, mas não parei para conversar. 
Acredito que o meu sorriso foi o suficiente pra disfarçar o esquecimento. 
Horas depois, em casa, bingo!!! 
Lembrei de onde eu conhecia aquela cara. 
Foi alguém do passado que me magoou. 
A gente brigou e nunca mais se viu. 
Senti um alívio danado por não ter lembrado da mágoa naquela hora. 
E descobri que memória curta não é coisa da idade, não... 
É sabedoria mesmo. 
Esquecer um ressentimento é coisa de gente grande. 
Gente de bem com a vida. 
Gente que não se ocupa de remoer mágoas. 
Essa coisa de lembrar só o que é importante e feliz é a tal memória seletiva. 
Coisa que todo mundo deveria fazer. 
O mesmo com os olhos e ouvidos... 
Ouça e veja só o que faz bem pra alma. 
Sabedoria pra mim é isso: 
Ficar esquecido de episódios tristes. 
Surdo de ruídos nocivos. 
Cego de visões distorcidas... 
Enquanto a memória falha, eu vou ficando melhor como pessoa.... 
E lembrando só do que vale a pena. 
Do que é necessário. Só o essencial. 
Confesso que esqueci onde larguei a chave do carro.. 
Mas eu lembrei de uma coisa ótima: 
Não tenho a menor idéia do que me aborreceu ontem... 
Porque hoje eu tô muito feliz! 
TEXTO: Lena Gino
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário